Nascer em Espanha...
A Rainha Beatriz da Holanda
Anos atrás, tive que me deslocar ao Canadá em serviço. Mais propriamente à sua capital, a cidade de Ottawa. Como tive um dia livre antes de iniciar a viagem de regresso a Portugal, aproveitei para fazer de autocarro um circuito turístico pela cidade. Fiquei maravilhado com o que vi. Uma cidade moderna com belos edifícios, bem delineada, onde a paisagem urbana alterna com bosques, cascatas, canais, e magníficos jardins. Tudo muito limpo e arrumado.
Mas não é para descrever esta bela cidade que estou a “teclar” estas linhas. O que pretendo aqui é chamar a atenção para um pequeno pormenor que nunca esqueci e que hoje me parece oportuno recordar. Numa unidade hospitalar da cidade, há um quarto que, ainda hoje, é território holandês.
A história é simples. A família real holandesa teve que abandonar a sua Pátria para não ser feita prisioneira pelas tropas de Hitler, aquando da ocupação da Holanda pelos alemães, na segunda guerra mundial. E a princesa Juliana, mãe da actual rainha Beatriz, refugiou-se posteriormente na capital canadiana onde, em 1943, deu à luz uma menina, a terceira, a quem deu o nome de Margriet. Porém, para que um membro dessa família não nascesse fora do território nacional, as autoridades canadianas concordaram em que o referido quarto do hospital fosse considerado para todos os efeitos território holandês.
Este curioso episódio, apesar de ter acontecido apenas porque se tratava de membros da realeza, não deixa de ter significado pelo que revela da importância de se nascer em solo pátrio. Magriet podia muito bem ter nascido no Canadá e ser registada no seu Consulado como cidadã holandesa. Mas foi assim, porque o local de nascimento é, por tradição, um factor de grande peso na assunção da nacionalidade. Uma espécie de direito natural inalienável.
Desgraçadamente, em Portugal, os mais altos responsáveis da Nação já não pensam assim e as futuras mães da região de Elvas vão ter que dar à luz em solo espanhol. Uma vergonha! E parece-me impensável que qualquer outro país que se preze enverede por tal política. A começar pelos nuestros hermanos, que nunca se sujeitariam a semelhante humilhação.
Pelos vistos, nascer em solo pátrio é de somenos importância face à poupança de uns miseráveis trocos que, diga-se em abono da verdade, não terão grande peso na economia do país, tal é o descaminho que os dinheiros públicos estão a levar. Embora seja inviável garantir que todos os filhos de emigrantes portugueses nasçam em solo pátrio, como aconteceu à princesa holandesa, parece da mais elementar decência que se garanta tal situação a quem viva no País.
É evidente que o próximo passo na senda da poupança será, fatalmente, pedir aos espanhóis que nos venham governar porque, como se tem visto, com portugueses fica demasiado caro. Para lá de dar mau resultado.
Costa Monteiro