CONTRA OS ABUSOS DO PODER VENHAM DONDE VIEREM
Quarta-feira, 14 de Março de 2018
O dedo na ferida

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ANTÓNIO BARRETO

      É simplesmente desmoralizante. Ver e ouvir os serviços de notícias das três ou quatro estações de televisão é pena capital. A banalidade reina. O lugar-comum impera. A linguagem é automática. A preguiça é virtude. O tosco é arte. A brutalidade passa por emoção. A vulgaridade é sinal de verdade. A boçalidade é prova do que é genuíno. A submissão ao poder e aos partidos é democracia. A falta de cultura e de inteligência é isenção profissional.

      Os serviços de notícias de uma hora ou hora e meia, às vezes duas, quase únicos no mundo, são assim porque não se pode gastar dinheiro, não se quer ou não sabe trabalhar na redacção, porque não há quem estude nem quem pense. Os alinhamentos são idênticos de canal para canal. Quem marca a agenda dos noticiários são os partidos, os ministros e os treinadores de futebol. Quem estabelece os horários são as conferências de imprensa, as inaugurações, as visitas de ministros e os jogadores de futebol.

      Os directos excitantes, sem matéria de excitação, são a jóia de qualquer serviço. Por tudo e nada, sai um directo. Figurão no aeroporto, comboio atrasado, treinador de futebol maldisposto, incêndio numa floresta, assassinato de criança e acidente com camião: sai um directo, com jornalista aprendiz a falar como se estivesse no meio da guerra civil, a fim de dar emoção e fazer humano.

      Jornalistas em directo gaguejam palavreado sobre qualquer assunto: importante e humano é o directo, não editado, não pensado, não trabalhado, inculto, mal dito, mal soletrado, mal organizado, inútil, vago e vazio, mas sempre dito de um só fôlego para dar emoção! Repetem-se quilómetros de filme e horas de conversa tosca sobre incêndios de florestas e futebol. É o reino da preguiça e da estupidez.

      É absoluto o desprezo por tudo quanto é estrangeiro, a não ser que haja muitos mortos e algum terrorismo pelo caminho. As questões políticas internacionais quase não existem ou são despejadas no fim. Outras, incluindo científicas e artísticas, são esquecidas. Quase não hácomentadores isentos, ou especialistas competentes, mas há partidários fixos e políticos no activo, autarcas, deputados, o que for, incluindo políticos na reserva, políticos na espera e candidatos a qualquer coisa! Cultura? Será o ministro da dita. Ciência? Vai ser o secretário de Estado respectivo. Arte? Um director-geral chega.

      Repetem-se as cenas pungentes, com lágrima de mãe, choro de criança, esgares de pai e tremores de voz de toda a gente. Não há respeito pela privacidade. Não há decoro nem pudor. Tudo em nome da informação em directo. Tudo supostamente por uma informação humanizada, quando o que se faz é puramente selvagem e predador. Assassinatos de familiares, raptos de crianças e mulheres, infanticídios, uxoricídios e outros homicídios ocupam horas de serviços.

      A falta de critério profissional, inteligente e culto é proverbial. Qualquer tema importante, assunto de relevo ou notícia interessante pode ser interrompido por um treinador que fala, um jogador que chega, um futebolista que rosna ou um adepto que divaga.

Procuram-se presidentes e ministros nos corredores dos palácios, à entrada de tascas, à saída de reuniões e à porta de inaugurações. Dá-se a palavra passivamente a tudo quanto parece ter poder, ministro de preferência, responsável partidário a seguir. Os partidos fazem as notícias, quase as lêem e comentam-nas. Um pequeno partido de menos de 10% comanda canais e serviços de notícias.

      A concepção do pluralismo é de uma total indigência: se uma notícia for comentada por cinco ou seis representantes dos partidos, há pluralismo! O mesmo pode repetir-se três ou quatro vezes no mesmo serviço de notícias! É o pluralismo dos papagaios no seu melhor!

      Uma consolação: nisto, governos e partidos parecem-se uns com os outros. Como os canais de televisão.

 

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

  


publicado por Fernando Vouga às 17:17
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25 comentários:
De Morais Silva a 16 de Março de 2018 às 11:44
Este é um dos poucos homenzinhos que abomino. Pregador de moral e bons costumes este fujão da guerra de África deveria suscitar nojo em vez de reverência. 
Morais da Silva


De Fernando Vouga a 16 de Março de 2018 às 16:41
Caríssimo amigo
Publiquei aqui este texto pelo seu conteúdo e não porque foi escrito por quem foi. Por sinal, hesitei em incluir a sua fotografias e até tive uma imagem em substituição. Mas acabei por publicá-lo tal como o recebi, para não "violar" os "direitos de autor", digamos assim.


De Anónimo a 16 de Março de 2018 às 18:10
Estou mais descansado.
Abração
Toí


De Anónimo a 17 de Março de 2018 às 14:36
Não se pode agradar a todos!


De Anónimo a 17 de Março de 2018 às 14:43
Pregador da moral? Qual é a sua igreja? Acho que a sua perspectiva ou é enviesada ou vesga ou então estude melhor o destinatário da sua opinião porque pode estar enganado


De Anónimo a 17 de Março de 2018 às 20:53
Barreto é fujão. 
Sabe que cerca de 1 milhão dos seus compatriotas malhou com os ossos em África? Acha que algum combatente não encara com nojo os "fujões" da guerra?


De António a 17 de Março de 2018 às 15:22
Comentário estúpido vindo necessariamente de pessoa estúpida! É a vida, É o País que temos e que vota em Sócrates!


De Anónimo a 17 de Março de 2018 às 20:49
O que vocemecê não sabe é que está responder a um mortal que malhou 2 comisões a combater em África donde tudo o que é fujão me enoja. É o caso deste Barreto. 


De NUno Santiago a 21 de Março de 2018 às 09:41
Se o facto de ter dado o coiro por uma guerra que defendia uma causa perdida , ditatorial,injusta, colonialista, desfasada no tempo e mais o enche de orgulho o problema será seu.Não fui à guerra por ter 17 anos em 74 mas não iria  como não iria qualquer um que tivesse pensamento crítico e independente de um regime ditatorial e paternalista que tentava fazer crer que ter colónias era uma realidade aceitável. Esse mesmo regime através de uma estupidez histórica imperdoável perdeu a possibilidade de uma descolonização funcional que teria poupado milhares de vidas e trazido prosperidade a ambos os lados.António Barreto é uma mente superior que felizmente não está ao seu nível!


De Rogério a 22 de Março de 2018 às 21:41
Quem tanto fala em estupidez ,é necessáriamente estúpido ..Que tem esta esperteza a ver com quem vota em Sócrates ou em Pedro ou Tiago ou João ? Quem é o dono da verdade ?Tanta estupidez junta !


De Joaquim Machado a 18 de Março de 2018 às 16:50
O seu comentário só vem justificar as declarações aqui deixadas pelo autor do artigo. Obrigado por lhe dar razão !


De João Paulo Reis a 17 de Março de 2018 às 13:02

Boa tarde,
Poder-me-ia informar a origem do texto se for de terceiros ou confirmar-me que lhe chegou diretamente do autor.
Muito obrigado


De Fernando Vouga a 17 de Março de 2018 às 17:44
Caro Senhor JoãoPaulo Reis


Recebi esta peça por correio electrónico, da parte de um amigo meu. Na mensagem não referia a origem do texto.
Cumprimentos


De A João Soares a 17 de Março de 2018 às 14:32
Concordo com o António Barreto. Quando há algum crime a TV repete pormenores quase todo o dia como se fosse uma autêntica escola de crime, ensinando aos candidatos ao crime a melhor forma de o fazer e como  evitar ser topado e julgado. Por outro lado, endeusam o criminoso dando-lhe mais tempo de antena do que a um bom cientista ou escritor.


De antonio ribeiro a 17 de Março de 2018 às 19:52
Verdade.
" Em Portugal, as pessoas são imbecis ou por vocação, ou por coacção, ou por devoção"



De Anónimo a 18 de Março de 2018 às 09:48
Um Senhor. Admiro-o e gosto de o ouvir e ler pela sua indepenência e inteligência.Por vezes discordo. Mas é sadio que assim seja.


De Anónimo a 18 de Março de 2018 às 12:35
I
      Inteiramente de acordo com o Prof António Barreto, embora o seu pensamento e capacidade intelectual está a léguas de distancia da minha pessoa, Há algum tempo, eu disse e escrevi, que se este senhor me perguntasse se gostava de ser ELE, eu não hesitaria, e diria SIM. Apenas também sou António !
Acerca do acordo ortográfico, sendo certo que as linguas são vivas e estão em mutação sempre, de uma forma lenta, e sofrendo até influências de linguas estrangeiras, mas as razões do desacordo, além do estético ( fato e facto ) penso que o que move o Professor são razoes mais alargadas


De Anónimo a 18 de Março de 2018 às 20:16
Bem verdade .......mas é disto que povo gosta.


De Anónimo a 18 de Março de 2018 às 22:00
Se o autor do texto fosse anónimo, ESTARIA  PRATICAMENTE  DE ACORDO NA TOTALIDADE, com o teor do texto.


De Clara Sacarneiro a 19 de Março de 2018 às 12:41
Antonio Barreto e a pessoa que mais respeito no seu trabalho e nas suas opiniões. 
Parabéns por ter tocado na ferida de jornalistas e leitores ou espectadores...há muitos anos que considero a maioria dos jornalistas, em qualquer dos países onde vivi, extremamente preguiçosos e desinteressados em aprender mais ou fazer melhor....eu, como jornalista e correspondente de jornais no estrangeiro, por exemplo nunca vi nenhum outro jornalista português a assistir a conferências ou debates políticos ou até reuniões de informações organizadas por Associações de Jornalistas...apareciam antes ou depois dos eventos, a pedir os resumos ou a informação já escrita e com fotografias ou ainda esperavam pelos jornais do dia seguinte e faziam traduções dos artigos sobre os assuntos.
Hoje em dia se não se entrega o artigo feito e já paginado com as fotografias sobre um assunto importante que convém que saia atempadamente, temos a certeza que este não será publicado se der minimamente trabalho a qualquer dos jornalistas da redacção!
Estou triste por ler este muito bem escrito artigo, ou DESABAFO. Porque tenho de concordar completamente e só depois de ler isto percebo porque vejo hoje muito menos horas de noticiários e porque deixei de ler jornais portugueses.
Mas como Portugal só imita o que não presta no estrangeiro, a verdade é que há uma crise de falta de imaginação e amor à profissão por todo o mundo... talvez a Ljazeera seja por enquanto um oásis no deserto da informação útil e bem trabalhada.


De Anónimo a 19 de Março de 2018 às 22:48
Á dias referime a esta pessoa na qual até aconselhei a lerem um livro sobre esta criatura sobre o trabalho dele enquanto ministro da Agricultura num dos governos PS penso co Mário Soares, na verdade é preciso ter cabêça de helefante psra ouvi-lo, mas como á gente para tudo, da minha parte ele para mim não passa simplesmente de um escroque da sociédade, vassalo até dizer nais não.


De muitopoucoatento a 20 de Março de 2018 às 18:18
MEU DEUS !!!!
Que calinada no português...


De Anónimo a 30 de Março de 2018 às 12:10
É o resultado do ensino pós-25 de Abril


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